segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Roberto e Cassandra.

Deitado na cama está Roberto com o olhar preso ao teto. Cassandra então entra no quarto e caminha vagarosamente até a cama com passos despreocupados. Ela agacha e toma seu rosto com as mãos. Olha-o nos fundos dos olhos... Algo ela vê e fica a contemplar, é como se ela visse um universo dentro dos olhos dele. Todo um mundo em um único ser.  Tanta dor, tanta alegria. Tanta luz, quanto trevas. E isso não era apenas um mero reflexo nos olhos.
 - Estou perdido, Cassandra... – diz ele divagando.
 - Todos estamos, não? – Ela responde mesmo sem talvez saber do que esta falando.
 Após tais breves palavras o olhar dele retorna para o que esta a sua volta, virando-o para de encontro com o dela. Por alguns instantes eles continuam se olhando em silêncio. Não aquele silêncio incômodo que um dos dois pensa que deve dizer algo. Um silêncio retrospectivo. Nesse silêncio eles seguem-se com seus olhares de cúmplices. Toda uma história talvez possa descrever esses olhares. Toda uma história é recontada com os olhares. Então, os semblantes vagarosamente começam a se mexer, iniciando um tipo de jogo de resistência. Após um outro grande silêncio, Cassandra ri, sendo assim a perdedora do jogo. Roberto em seguida ri também, levando sua mão até a maçã do rosto dela.
 - Às vezes me sinto a deriva. É como se eu perdesse tudo, como se tudo perdesse o sentido. E assim... Eu me esqueço. Aí, eu lembro de você, meu bem. Tornou-se meu porto seguro. – Roberto termina de falar esboçando um singelo sorriso para ela que vai deitando ao seu lado.
 Cassandra responde ao sorriso dele educadamente, pensando no dito e deitando-se ao lado dele.


 - Então, meu bem, integra que fica tudo nos eixos. – ela ri em seguida de sua piada infame - Às vezes me sinto sobre colosso abismo. Se eu me apavoro? Eu fecho os olhos e sigo nas assas do perigo... Você me entende? – Diz em tom impulsivo e como se achasse um pouco de graça ao dizer dessa forma como disse.
 - Você diz... Deixar fluir?
 - Talvez.
 - Por que não me contento com o que tenho? Por que querer o mundo? Por que eu quero que as coisas façam sentido?
 - Para se sentir confortável, oras.
 - Mas as coisas são porque são... Há momentos que me satisfaço no porque de uma existência apenas pela sua possibilidade.
 - Eu não viveria bem com um pensamento desses...
Os dois deitados lado a lado na cama voltassem com olhares ausentes em direção ao teto, fixando o olhar em um ponto cada um. Suas mãos se movem juntas uma para a outra. Roberto e Cassandra ali são transportados para dentro de cada um, mas ainda com uma ligação entre eles, para que acalmem suas almas. Ambos parecem estar vivendo uma roda-gigante de sentimentos. Revivendo uma montanha russa de acontecimentos e também quem sabe de não-acontecimentos.
Em uma viagem ao nada, tomados por alegria e angustia. Ao passado, por nostalgia. Ao futuro, com bravura. E ao presente, com amor. Aos poucos eles vão deixando um pouco mais o mundo como todos conhecem.