sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Lilly, de um jeito estranho.

        Sentada - ou devo dizer jogada? - lá estava ela em uma poltrona próxima de mim. Ali, perdida em pensamentos. Perdida no que foi sua infância e no que é agora. O que será que aconteceu com a criança feliz que um dia foi? Destemida, capaz de tudo,  capaz de mudar o mundo com um sorriso eterno estampado no rosto, que se perdeu por aí. Hoje parece que só restou luxuria e melancolia.


        Lilly tinha um jeito estranho, parecia dormir com um drink na mão. Se eu não notasse seu olhar desiludido para o teto, quando meche sua cabeça para um lado, diria que apagou finalmente de tanto beber. Estranho a maneira que chegava a admirar o modo que ela bebia. Não imagino como descrever... Era delicada, mas agressiva. Segurava o copo com toda uma delicadeza e grandeza, que só uma mulher consegue, ao meu ver. Bebia suavemente, mas olhando bem,  eu percebia como o corpo absorvia aquilo violentamente, o quanto seu corpo desejava  cada gota que ingeria, como cada gota a satisfazia. O que me fazia admirar aquilo? Havia uma beleza, havia uma satisfação. Havia algo ali... Eu ia roubando tudo para mim, como seus sentimentos.
        A pequena menina que um dia ela foi, eu saiba que ainda habitava aquele corpo. Acho que eu podia ver. Ela me encantava, vezes ou outra me fitava dali sentada. Um olhar fixo, sem aparente empatia. As vezes os interpretava como um pedido de socorro de uma menina presa, outras vezes como o de um animal faminto. Assim, como um menino solitário e um animal faminto, me juntava a ela.

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